Olá doçuras, há muito tempo não escrevo pra vocês e todo lugar que tenho ido sempre encontro um fã da Glamazone morrendo de saudades da festa querendo saber a quantas anda nossa situação.
Enfim, a Glamazone acabou? Não sei responder, não sei nem dizer se a Glamazone começou, mas o fato é que a Glamazone aconteceu num momento, num espaço e para um público certo, de modo que nunca poderia ter dado errado. E não deu, por 3 anos a festa aconteceu com uma frequencia quase mensal, atraindo pessoas interessantíssimas de pencas de cidades que se divertiram de forma que nunca mais se esquecerão. Foi um momento propício para isso, e nos anos seguintes, quando a festa se tornou anual, nunca deixou de receber o carinho e o respeito de seu público.
Neste tempo todo deu pra brincar muito, pra dançar muito e pra presenciar momentos inigualáveis, como os shows temáticos, as intervenções artísticas e o line up de dee jays que até hoje fazem sucesso em várias festas e casa noturnas do circuito.
No fim das contas, penso que fui eu quem mais ganhou com tudo isso, consegui afinar uma experiência sem tamanho, com resiliencia, dinamismo e muuuuuuuuuita força de vontade, pois realizar um evento deste tamanho sozinho não é brincadeira, tanto que ao longo que a festa crescia várias forças políticas, judiciárias e militares interviram tentando levar a festa ao fim, fatos desprezíveis comparados ao movimento e ao público que seguiu a festa com muita animação.
O fato é que a vida nos leva para trilhos diferentes, faltou local, faltou força de vontade pelas atrações e ao mesmo tempo milhares de outras portas se abriram pra mim por causa do sucesso da festa. Todos sabem e não é segredo pra ninguém que quando comecei o evento, ainda nem tinha me formado, foi uma consequencia das diversas casa noturnas e festas onde trabalhei que desencadearam a chance de realizar um sonho de infancia, criar uma balada itinerante temática para um público antenadíssimo cheio de vontade de se divertir.
E foi divertido, até hj não encontrei sensação melhor do que a de um dia antes da festa, o dia da festa e o dia depois da festa. Trabalhei bastante com uma equipe maravilhosa de divulgadores, drag queens, djs, gogo´s e atores, tive momentos fantásticos, que jamais voltarão, fui obrigado a crescer rapidamente e a assumir responsabilidades sem tamanho e me diverti muito com isso também.
Aprendi a criar layouts, a liderar equipes, a ter um senso crítico aguçado, a cair e me levantar inúmeras vezes, a segurar muita onda, a aplicar conceitos de comuniação, propaganda e marketing, desenvolver planos com parceiros e ter uma criatividade sem fim, e sem fim meeeeeeeeesmo, muitos dos temas criados na festa nunca tinham sido usados em balada alguma, muitos destes tb são "copiados" por outras boates e festas até hoje, o que nunca achei ruim, ao contrário, vejo como reconhecimento, vejo que são conceitos e referências aproveitados por terceiros para continuar disseminando essas ideias loucas que tantas vezes ouvi que não daria certo.
Por isso hoje em dia brinco que não sou eu que trago a glamazone, é a glamazone que me traz, de fato a festa tomou vida propria e energia propria, não basta apenas eu querer pra festa acontecer, é preciso muito mais! É preciso aquele momento propício, aquele público propício, aquele espaço propício. Somos todos nós que fazemos a Glamazone acontecer e não cabe mais a mim estralar os dedos e criar mais uma edição desta balada inesquecível.
O fato é que tenho observado a noite gls em ribeirão e na região e não consigo ver estes atributos propícios mais. Vejo que o público gay, que era tão legal a ponto de atrair até heterosexuais, se vendeu muito fácil. É claro que existe sim todo aquele movimento que tornava a Glamazone irresistível, mas o foco do publico gay hoje é formado por pessoas que nem sequer querem aparentar gays, que não gostam mais de assistir a um show produzido com drag queens, que não gostam de sequer se jogar numa pista de dança ao som de um batidão fervo. Vejo que os gays de hoje formam uma grande paisagem de plástico, que preferem ouvir qualquer coisa xoxada de festa eletronica hetero (como minimals, lady gaga e clichês FM) e se vestir discretamente. Não falam mais o pajubá afiado, até preferem programas mais tediosos como sentar olhando pra cara do outro, não gostam de serem vistos com aqueles mais afeminados, não gostam de ir pra parada gay e só pensam em provar que são ricos, que vestem e usam coisas caras, que são metidos e frequentam lugares da moda. Aquela história de sair apenas para "ver e ser visto" e nada mais.
Agora, eu é que tenho um monte de perguntas para as massas do circuito mix de ribeirão e região: Pra que isso tudo? Vale mesmo deixar de lado o conceito que levou décadas (sim! décadas!) para construir? Vale a pena ficar neste canavial asfaltado se comportando como se esivesse numa The Week da vida? E o quanto que nomes ilustres como Greta Star, Nany People, Dimmy Keer, VERÔNICA lutaram para manter os alicerces de nossa identidade presente?
Gente, é preciso entender que gays sempre existiram, sempre existirão, que os gays são belos, inteligentes, talentosos, fazem as coisas acontecerem, que os gays estão nas ruas para serem admirados, respeitados. Até os hetéros de hoje em dia querem parecer gays, querem um visual transado, gírias divertidas e baladas misturadas. Os gays tem um poder sobrenatural, transformam as coisas, são fortes e rápidamente vistos como qualificados, os gays brilham! Ilustram nossa realidade tediosa com fantasia e valores insubestimáveis. Deveriámos ter orgulho de não estar condenado à uma vida medíocre sem encantamentos. Deveríamos sim nos divertir como gostaríamos, sem querer provar nada pros outros, deveríamos dançar na boate como dançamos trancados no quarto.
Não podemos viver em função do que os outros podem pensar de nós, e é isso que vejo acontecendo! Devemos declarar nossa liberdade, nossas vontades e forçar nossa atitude pra não passar a vida abatido, não há preço que compre isso doçuras, e não quero que percebam isso quando estiverem velhos, acanhados em casa, caçando pela webcam. Quero que essas gerações atuais aproveitem como nós da Glama aproveitamos! Com orgulho de termos nascido assim.
Pareço muito alucidado? Pois saiba que enquanto tudo isso acontece, é claro que fui aproveitar as outras portas que a Glama me abriu, trabalhei em diversos lugares em ambientes corporativos e agencias, não parei de estudar, fiz diversos outros cursos e agora estou criando uma tese para concluir minha pós-graduação. A Glama ficou parada, eu não.
Hoje me encontro completamente sem tempo de organizar uma nova edição da festa. Sim não é apenas a noite do evento que trabalho, tem todo um mês de criação, mais um mês de divulgação e organização (de coisas como bar, segurança, estrutura, etc) e não há tempo para esta dedicação, até porque quero me dedicar àquele movimento e público legal que existiu durante e até mesmo antes da Glamazone.
O fato é que realizamos 25 edições temáticas em 5 anos de existências, todas bacanérrimas. Umas memoráveis (sempre me falam da Batucada no carnaval de 2006, ou da Militária II, eleita pelo público para ser a edição especial da parada gay) outras nem tanto (não gostei da Fetiche, por exemplo)... mas todas bacanérrimas sim! com um público imbatível e histórias infinitas contadas até hoje entre os frequentadores. Me encho de orgulho por ter criado esta marca, principalmente quando aparecem fãs da balada querendo falar comigo. Nunca mais deu pra passar batido em lugar nenhum, e são coisas assim que não tem preço, penso que até hoje estou tendo lucro com a festa, e não falo de dinheiro, falo de satisfação, reconhecimento, experiência e amizade.
Conto para vocês, o Superkell virou meu melhor amigo, até hoje nos encontramos, saímos e viajamos. A Kátiona tem anos que não vejo, mas vez ou outra nos telefonamos ela está muito feliz no mundo do fitness. o And continua casado comigo (7 anos!), temos 4 cachorros-montros (bull terriers) e passamos nossos momentos livres cuidando do jardim, fazendo arte e jogando video-game (aah qu saudades da Glamazone Video-Game). A Euréxia é pai de gêmeos, a Jady Hollyday colocou seios lindos, e o André Charlier tem uma loja belíssima que vende Pargan.
Eu sigo esperando aquela egrégora propícia para parir mais uma edição, confesso que deixa-los sem informação alguma foi sacanagem mas, podemos continuar existindo virtualmente, sem deixar o que levou 2 décadas para ser constrúido, ficar desconsruído em um par de anos.
Enfim, obrigado por ler este manifesto todo, vocês que brilham e continuem torcendo por nós que estamos torcendo por vocês.
Tárcio Costa - Criador e Produtor da Glamazone
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